3-Dimensão política da mensagem, atitudes, vida e morte e ressurreição de Jesus
É verdade que não se encontra em Jesus de Nazaré uma preocupação diretamente política. O seu interesse básico centra-se no anúncio da chegada do Reino de Deus. O que não significa que a vida e a mensagem de Jesus devam ser consideradas como apolíticas. Pelo contrário, ambas comportam uma dimensão política. E o mesmo deve ser afirmado a respeito da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. Procuramos, a seguir, fundamentar estas afirmações.
Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus e fez sinais da sua presença e da sua atuação, no coração do seu momento histórico não isento de ambigüidade. Pois bem, o anúncio e os sinais do Reino bem como o modo de vida seguido por Jesus, em conformidade com a sua missão de anunciar e presencializar o Reino, contêm uma dimensão política.
O Reino de Deus é sobretudo um dom de Deus cuja aceitação por parte do homem comporta a reconciliação com o mesmo Deus bem como a reconciliação entre os homens. Em conseqüência, o anúncio do Reino implicou, para Jesus, a crítica das perversões da convivência humana tal como era vivida na Palestina do seu tempo. Igualmente, está presente na pregação de Jesus a respeito do Reino de Deus o apelo para uma convivência fraterna, guiada pela gratuidade (resposta do homem ao amor plenamente gratuito de Deus) e não por uma relação de comercialização meramente interesseira.
É verdade que o caminho de Jesus não passou pela luta armada contra os dominadores, mas isto, mais uma vez, não significa que a sua mensagem e o seu comportamento devam ser considerados apolíticos, pois as bases mesmas dos poderes que dominavam e oprimiam as pessoas ficaram socavadas pela pregação e pelas atitudes de Jesus. De fato, as pessoas e grupos interessados na manutenção do status quo perceberam logo o perigo que as palavras e o comportamento de Jesus implicavam. Se o Reino de Deus for levado a sério, o poder dominador religioso, econômico, sociopolítico e cultural deve ser superado e substituído por uma organização de convivência humana guiada pelo amor-serviço fundado na verdade.
O Reino de Deus desmascara as pretensões sacralizadoras e idolátricas do poder dominador. O poder político, à medida que é opressor, não pode ser manifestação ou mediação do Deus do Reino. Este só pode ser mediatizado pelo amor-serviço, o único verdadeiro poder. Ora, o amor serviço não é uma realidade apolítica, pois deve levar em consideração as diversas circunstâncias (também sociopolíticas) em que os seres humanos concretos se encontram. É certo que ninguém está excluído do amor de Jesus, mas sua manifestação é muito diferente no caso dos doentes, pobres e pequenos e no caso dos fariseus e dos outros grupos que dominam e oprimem o povo dos marginalizados. Numa situação de desumanização e de injustiça, o anúncio do Reino de Deus exige também denúncia e crítica do que desumaniza. Neste sentido, não há como negar que o Reino tenha uma dimensão política. Mais ainda, o anúncio do Reino deve ser acompanhado de sinais que o presencializem, atuando já no hoje da história. Por isso a crítica da injustiça e da opressão exige o compromisso pela criação de estruturas, sistemas e situações que apontem para a plenitude da realização do Reino.
Lucas 4,16-21
Entrou, segundo o seu costume, no dia do sábado na sinagoga • , e levantou-se para fazer a leitura. 17 Deram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, encontrou • a passagem onde está escrito:
18 O Espírito do Senhor está sobre mim,porque me conferiu a unção •
para anunciar a boa nova aos pobres • Enviou-me para proclamar aos cativos a libertação e aos cegos, a recuperação da vista,
para despedir os oprimidos em liberdade,
19 para proclamar um ano de acolhimento da parte do Senhor • .
20 Enrolou o livro, entregou-o ao servente e se assentou; todos na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Então, ele começou a• lhes dizer: Hoje, esta escritura se realizou para vós que a ouvis•
Pensando nossa fé:
Quando dizemos que amamos Jesus Cristo e que somos seus seguidores, temos consciência de que este amor precisa se traduzir em ações concretas em favor dos que sofrem? Jesus relê o texto do profeta Isaias e faz dele suas palavras e sua prática , e nos seu seguidores? Como vivemos essa unção do Espírito Santo?
Para meditar:
Vejam (canto que cantamos quando nos dirigimos para Ceia do Senhor)
Frei Fabreti
Vejam: Eu andei pelas vilas, apontei as saídas como o Pai me pediu
Portas eu cheguei para abri-las, eu curei as feridas como nunca se viu.
Por onde formos também nós que brilhe a tua luz
Fala, Senhor, na nossa voz, em nossa vida
Nosso caminho então conduz, queremos ser assim
Que o pão da vida nos revigore em nosso "sim"
Vejam: Fiz de novo a leitura das raízes da vida que meu Pai vê melhor
Luzes acendi com brandura, para a ovelha perdida não medi meu suor
Vejam: Procurei bem aqueles que ninguém procurava e falei de meu Pai
Pobres, a esperança que é deles eu não quis ver escrava de um poder que retrai
Vejam: Semeei consciência nos caminhos do povo, pois o Pai quer assim
Tramas, enfrentei prepotência dos que temem o novo, qual perigo sem fim
Vejam: Eu quebrei as algemas, levantei os caídos, do meu Pai fui as mãos
Laços, recusei os esquemas, Eu não quero oprimidos, quero um povo de irmãos
Vejam: Procurei ser bem claro; o meu reino é diverso, não precisa de Rei
Tronos, outro jeito mais raro de juntar os dispersos o meu Pai tem por lei
Vejam: Do meu Pai a vontade eu cumpri passo a passo, foi pra isso que eu vim
Dores, enfrentei a maldade, mesmo frente ao fracasso eu mantive meu "sim"
Vejam, fui além das fronteiras, espalhei boa-nova: Todos filhos de Deus
Vida, não se deixe nas beiras, quem quiser maior prova venha ser um dos meus
Por onde formos também nós que brilhe a tua luz
Fala, Senhor, na nossa voz, em nossa vida
Nosso caminho então conduz, queremos ser assim
Que o pão da vida nos revigore em nosso "sim"